domingo, 18 de abril de 2010

1. O costume do cachimbo é que põe a boca torta

Todos nós queremos mudar, crescer, evoluir. Só nos esquecemos de um pequeno detalhe: levamos anos construindo um edifício de maus hábitos e queremos implodi-lo em um só dia. Conseguir esta façanha é possível no mundo exterior, mas não no nosso mundo interior!

Desentortar a boca, após tempo de uso do cachimbo, é algo que requer paciência e perseverança. Enxergar que o cachimbo faz mal e que a boca precisa ser desentortada é apenas o primeiro passo. Do mesmo jeito, enxergar que um hábito não nos mais é necessário, é apenas uma das etapas do longo caminho que temos que trilhar, tendo em vista atingir, de forma completa, a paz que todos almejamos.

Quando enxergamos em nós um mau hábito e desejamos mudá-lo, acordamos pela manhã com toda a força para resistir a ele. Conseguimos até a metade do dia. Mas, geralmente, fraquejamos antes do anoitecer. Nos sentimos enfraquecidos e derrotados. Não percebemos, no entanto, que durante o dia fomos fortes, resistimos ao hábito várias vezes, até cedermos uma única vez. E nós, ao invés de ficarmos alegres porque já detectamos o nosso erro e estamos tentando mudar, ficamos decepcionados porque não mudamos com a rapidez que desejamos.

É como um doente que estando paralisado totalmente, através de um novo tratamento consegue sentar. Ele tem todos os motivos para alegrar-se. Afinal, conquistou uma significativa melhora! Mas, ao invés disso, se aborrece por ainda não poder andar.

Quando já nos encontramos em condições de encarar de frente os nossos “erros”, somos vencedores! Vencedores da batalha. Não da guerra! A guerra será vencida lenta e progressivamente. A “Grande Guerra” – a “Grande Luta” – que tem como objetivo a conquista do mais precioso tesouro, do mais precioso território: o nosso mundo interior.



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

2. Devagar se chega ao longe

A história “Os Três Porquinhos” fala de três porquinhos (lógico), que desejam construir cada um a sua casa, a fim de se protegerem do terrível “Lobo Mau”. Dois deles, desejando realizar o serviço com a maior rapidez possível, resolveram construir suas casas com um material fácil de ser conseguido. O irmão mais velho – o Porquinho Prático –, no entanto, preferiu procurar pacientemente por um material que lhe garantisse uma maior segurança. Seus irmãos o criticaram bastante por esta atitude, dizendo que ele estava perdendo tempo. Porém, apenas a casa do Porquinho Prático conseguiu manter-se em pé. Pois, com apenas um sopro, o lobo conseguiu derrubar as casas dos dois porquinhos impacientes, que logo correram para buscar abrigo na casa do irmão que foi tão duramente criticado.

Por falar em paciência e na conquista da capacidade de agir devagar e com calma, a fim de conseguir o que é desejado, outra história infantil me vem à lembrança – “A Tartaruga e a Lebre”. A lebre, sabendo que era muito mais rápida que a tartaruga, resolveu propor uma disputa para medir a rapidez dos dois animais. A lebre tinha um único intuito: humilhar o lento animal que, certamente, seria o perdedor. A tartaruga, porém, não se intimidou e marcou a corrida logo para o dia seguinte. A floresta se transformou numa grande festa! Haviam faixas por todos os lados e bichos chegando de todos os cantos. Claro que a maioria torcendo para o provável vencedor – a lebre. Finalmente chegou o grande dia! Dada a partida, a lebre disparou na frente e a tartaruga caminhou da única forma que podia: lentamente. Percebendo que estava muito à frente do seu opositor, a lebre resolveu parar à sombra de uma árvore, a fim de descansar um pouco (dizem as más línguas que ela fez isso só para humilhar ainda mais a pobre tartaruga). Porém, a lebre pegou no sono e, “devagar e sempre”, a tartaruga continuou a sua caminhada até cruzar a linha de chegada. Sendo a grande vencedora do concurso que é comentado ainda hoje em toda a floresta.

A paciência é a mais importante arma utilizada pelos grandes vencedores. E como a nossa disputa é conosco mesmo, precisamos ter uma forte dose deste sentimento (ou comportamento), a fim de sermos condecorados como grandes campeões na arte de viver.



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

3. Quem corre cansa, quem anda alcança


“Só alcançará a serenidade
quem acreditar na eternidade do ser.”

A eternidade do ser é uma “Verdade” que parece indiscutível! Ou, então, teremos que crer em um Deus satânico, que nos coloca no mundo para vivermos alguns poucos anos, enquanto Ele se “diverte” com nossas dificuldades e dores. Todavia, para os que não crêem nessa “Verdade”, faço a pergunta: O que viemos fazer aqui, no planeta Terra, nos nossos poucos anos de vida? Será que não viemos aprender a transformar nossos instintos, para que assim passemos da condição de animais à de verdadeiros seres humanos?[

Algumas pessoas, no entanto, ainda acreditam que é possível conseguir essa transformação nos seus sessenta, setenta anos de vida. Por esta razão, tentam superar todos os seus “defeitos” de uma só vez. Correm, cansam, se desesperam, se frustram e DESISTEM.

Defeitos nada mais são do que comportamentos inadequados às “Leis Universais”, decorrentes de sentimentos e pensamentos desarmoniosos. É necessário, portanto, que se escolha uma dificuldade por vez a ser trabalhada, de forma lenta e profunda, para que os resultados sejam mais compensadores. Mesmo assim, essa etapa da vida física tende a ser concluída, ainda com comportamentos a serem modificados. Contudo, com bem menos do que quando se age com pressa.

Quanto menos comportamentos inadequados
às “Leis Universais” uma pessoa possui,
mais harmoniosa será a sua vida.

Para que uma casa seja firme e segura, a base precisa ser muito bem construída. Assim lembra a estória do “Lobo Mau e os Três Porquinhos”: O porquinho Prático demorou um pouco mais do que seus apressados irmãos para construir a sua casa. Em compensação, ela suportou todos os ataques do lobo, pois possuía uma base forte. Assim também é a construção dos nossos valores: se estes forem assentados em uma base firme e sólida, não se desmoronarão diante das dificuldades da vida.

O ditado popular “vou devagar porque tenho pressa” parece ser incoerente. No entanto, reflete bem a necessidade de fazermos as coisas com calma e planejamento, para que não tenhamos que refazer todo um trabalho, por este ter saído errado ou mal feito.

Não esqueça: “a pressa é inimiga da perfeição”.

Aprenda com a lição passada, sutilmente, pelo porquinho Prático:

“Devagar se chega ao longe.”



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

4. Cada dia com sua agonia

“Cada dia com sua agonia” e com suas alegrias.

É assim um dia: composto de dores e sabores; de busca de prazeres e amores; recheado de encontros e desencontros. E é exatamente quando a busca é em vão, que a dor aparece e junto com ela a agonia.

Esta agonia que surge pela falta de serenidade para realizar as buscas nossas de cada dia. Serenidade que só é alcançada quando se está disposto a trilhar o caminho do meio. Pois esta grande busca deverá ser sempre o equilíbrio interno, que poderá ser atingido mantendo o nosso instrumento – o corpo físico – em constante afinação, a fim de que ele possa refletir as notas harmoniosas da alma. Afinal, viver se constitui na arte de “afinar o instrumento, de dentro para fora, de fora para dentro é manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”.

Sábia orientação que nos é fornecida por uma linda música, e que nos parece, às vezes, impossível de ser seguida. Principalmente, no que diz respeito ao coração tranquilo. Como diz uma amiga, “nós não amamos, sentimos gunia” (não é nem agonia, é “gunia” mesmo!). Amamos de forma inquieta, levando a paixão ao seu extremo (como tudo que fazemos), nos esquecendo de que a paixão é uma potente fera, com a qual só devemos brincar se tivermos poder sobre ela. E como toda fera, por mais linda que pareça e por mais prazer e emoção que nos proporcione, deve ser domada e mantida sobre controle, para que não ataque o seu dono, fazendo com que este se desespere de dor.

Manter a “mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, a fim de que possamos superar as agonias comuns de um dia, pode parecer uma orientação realmente difícil de ser seguida, mas não impossível! Caso nos fixemos nela todos os dias.

Impossível é uma palavra que não existe
no dicionário dos Homens de boa vontade.

O “Universo” não nos pede nada
que não sejamos capazes de realizar.




(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

5. Não quero saber se pedra pari ou põe

“Não me venha com desculpas! Não quero saber as razões que você agora vai me dar para poder explicar porque não fez o que eu mandei!” Era mais ou menos assim que uma senhora sacerdotisa dizia para seus discípulos, quando estes não realizavam as tarefas que lhes eram confiadas. Uma sacerdotisa (que se preze) está sempre em sintonia com as “Leis Universais”. Sendo assim, nunca pede aos seus discípulos aquilo que eles não podem fazer. E era por isso que esta velha sacerdotisa se utilizava deste dito popular para ensinar que quando uma ordem nos é dada, principalmente pelo “Universo” ou pelo nosso guia espiritual, ela deve sempre ser seguida.

Mas, apesar da palavra “discípulo” significar aquele que tem disciplina, eu prefiro dizer que discípulo é aquele que está em treinamento para ter disciplina. E, por ainda estar em treinamento, sente dificuldade em cumprir as ordens que recebe. Falta-lhe concentração e um pouco de sabedoria para compreender que, geralmente, o que lhe é ordenado faz parte do seu processo de aprendizagem. Também ainda não foi adquirido, pelo discípulo, aquele nobre sentimento que possuem alguns seres – o sentimento da boa vontade.

Lembro-me que quando eu era pequena e minha avó me dava alguma ordem, esta sempre vinha acompanhada da seguinte frase: “vou cuspir no chão”. O que significava que eu deveria voltar antes que a saliva secasse. Ela sabia que era bem provável que eu fosse parando em vários lugares, a fim de conversar com meus amiguinhos. E, assim, esquecesse de fazer o que me foi pedido, terminando por chegar em casa com uma “desculpa esfarrapada”, por não ter conseguido realizar o que me foi solicitado. Ela sabia que me deveria educar no sentido de que eu aprendesse a grande arte da concentração.

Minha avó me ensinava esta arte tão difícil de ser aprendida, através de frases bastante interessantes: “Não se pode assobiar e chupar cana”; “não se serve a dois senhores”. Ela também me orientava para que quando eu saísse, na intenção de realizar alguma tarefa, não me desviasse do caminho, pois “só jegue de aguadeiro deve ir parando de porta em porta” – dizia ela.

No repertório de casos que minha avó utilizava para reforçar este ensinamento, tinha um que era muito engraçado:

“A mulher pediu ao marido que fosse até a feira, a fim de trazer uns caranguejos para o almoço. Este não hesitou, nem um minuto, em realizar o desejo da mulher. Foi então para a feira, comprando os caranguejos assim que chegou lá. Mas aconteceu que ele encontrou uns amigos e começou a tomar uns aperitivos. O tempo foi passando e quando ele se lembrou que tinha que levar o alimento para o almoço, já estava quase na hora do jantar. Não queria tomar “bronca” da mulher, então “bolou” uma daquelas “desculpas esfarrapadas”, as quais não convencem ninguém: chegando na porta de casa, soltou os caranguejos da corda. Quando a mulher viu o marido, foi logo dizendo um monte de desaforos e pedindo uma explicação para o fato. Ao que ele disse, fingindo-se magoado: você acha, mulher, que foi fácil vir tangendo estes caranguejos da feira até aqui?”

Para não ter que recorrer a estes expedientes ridículos, é que me esforço ao máximo para seguir uma das mais importantes orientações de vovó: eduque sua mente para que ela esteja sempre concentrada naquilo que está fazendo. Afinal, “dois sentidos não assam milho”.



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)

6. Deixe o prego que o martelo chama

Existe uma pessoa, muito sábia, com a qual eu converso desde criança. Eu não poderia dizer a idade cronológica que esta pessoa possui, mas diria que ela tem a idade da sabedoria. E um dos seus sábios ensinamentos, diz o seguinte.

“Somos seres da natureza.
E, como tal, somos orientados e comandados por ela.
A única diferença que existe entre as pedras,
as flores, os animais e os homens é que,
estes últimos, pensam que podem guiar a si próprios.
Pior ainda, pensam que podem comandar
a própria natureza”.

Pois é, talvez nós sejamos os únicas seres da natureza que não nos orientamos pelas suas leis e impedimos que ela siga o seu curso natural. E, por esta atitude orgulhosa e inconsequente, temos pago altos preços. As consequências são vistas no planeta e sentidas no nosso corpo físico.

“Deixe o prego que o martelo chama” nos diz: deixe as coisas acontecerem naturalmente, confie na sabedoria do “Universo”. Afinal, Ele só conspira a nosso favor. Se isto é difícil de ser aprendido por nós, é porque requer o sentimento da fé como prérequisito. E, segundo Jung, não é possível exigir que se tenha fé. A fé só tem valor quando espontânea.

A fé é um sentimento que existe em germe no ser humano e, que aos poucos, vai tornando-se real e fortalecida. É tão importante que figura na carta de São Paulo aos Coríntios como um dos três sentimentos – a fé, a esperança e o amor – que permanece quando atingimos a maturidade espiritual.



(livro "Provérbios - Sabedoria do Povo)